Ela Gostava de Ler

Paloma, uma garota bela que morava na mesma rua

Desde a infância, nunca tive coragem de chamá-la

Para brincar ou quem sabe para conversar

A campainha da casa dela nunca tive coragem de tocar

Pela janela eu ficava a admirar

Imaginando se algum dia eu poderia te abraçar

Sem malícia, amor juvenil e inocente

Como dizia aquele meu parente

"Isso passa, acredite"

E ainda assim, eu estava encantado

Enfeitiçado pela simplicidade daquele olhar

Tão profundo como o fundo do mar

E eu estava dessa maneira por ela

Que nenhuma brisa apagaria essa vela.

Mas como de costume o tempo passou

E esse tal amor foi-se tornando uma lembrança

Da minha época de criança

De quando não agia com ignorância

A imprudência era totalmente minha.

Ainda assim, eu a vi, morando novamente perto de mim

Especial, não apenas pela beleza facial

Não por algo tão superficial

Estou dizendo de modo intelectual

E pela janela eu conseguia vê-la no quintal

Com um short simples, uma camisa sem grife e tal

Lendo um livro aparentemente interessante

Na capa eu só conseguia perceber um viajante

E aquele devia ser o livro favorito de sua estante

Pela janela eu a pegava lendo-o a todo instante.

Eu já estava "crescido", tinha amadurecido

Mesmo que estivesse indeciso se conseguiria fazer aquilo

Fui até aquela janela, chamei pelo nome dela

E sim, ela atendeu ao meu chamado, no quintal apareceu

Fingindo não saber, perguntei se ela gostava de ler

Ela disse "Sim, por quê?"

Sem parar pra pensar, respondi "Escrevi isto, podes ver?"

Claro que o poema era sobre ela mesma

Fiquei preocupado dela criticar sobre o texto

Afinal eu a usei como referência

Tudo ocorreu no sexto dia do mês de fevereiro.

Eu havia me formado e me mudado por um tempo

Depois de alguns anos eu voltei ao meu templo

As lembranças guardadas pela janela, que se fechava com a força do vento

Mas parece que Paloma nunca se mudou

O meu medo foi dela ter encontrado um amor

Porém não recuei, e o poema eu lhe dei.

Ah, o destino, o acaso, uma tia dela sofreu um infarto

E por conta disso, sua mãe pediu para ela ir morar com a tia

Eu não poderia, de forma alguma, impedi-la

Mal sabia eu que nossas vidas seriam separadas naquele dia

Na última vez que eu a vi, ela estava saindo de casa, meio entristecida

Talvez pelo que ocorreu, não sei

A última vez que a vi eu estava a chorar

Hoje, na janela não consigo mais ficar

Pois terei a esperança que ela voltará

Quando ela se foi eu não consegui me controlar

Com os olhos a lacrimejar, entrei em meu quarto

E com a caneta, escrevi sobre a menina que fora minha dona

Adeus para sempre, Paloma.