Simplesmente.

Deixei de guardar as datas

Me esqueci de como fazia

Pra lembrar-me dos nomes

Faz tempo que não me ocupo

Com aquela antiga aflição

Que me fazia lembrar

Endereços e preços

Agora compreendo

Que coisas, cujo valor se mede

Não valem muita coisa

E que não existe um dia combinado

Muito menos um lugar certo

Pra que aconteça

de a vida da gente virar ao avesso

e descobrir

Que nomes ou endereços

deixam de ter importância

E que as coisas realmente importantes

Podem estar bem perto,

Ou distantes

Não existe certeza

Pra nada

Aquilo que vem

Sem nome, lugar ou hora marcada

é que realmente vai fazer

A gente acordar triste ou feliz

No meio da madrugada

Um rosto sem nome certo

Um rastro a ser seguido

Sem a gente ao menos saber

A razão de estar

Tão contente

Indiferente ao fato

de tudo que tinha guardado na lembrança

Não servir pra nada

E aquilo que tanto interessa

Não tem nome e não tem preço

endereço ou hora marcada

Não tem passado; não tem cor

Não tem medida e nem peso

Nada que explique a pressa

Nada que àquilo mensure

Existe apenas suavidade

e um tanto assim de magia

Junto a tanta alegria

e uma grande quantidade

daquela coisa que faz a gente

Não querer saber como se faz

Só dá vontade de fazer

Fazer exatamente

Perfeitamente perfeito

Aquilo que nunca fez

E fazendo do jeito que vier à mente

de repente a gente olha

E vê que não tinha outra escolha

Só tinha querer

Um querer que não podia ser

Guardado ou escrito

Não estava em lugar nenhum

No tempo ou no espaço

e independia

de tudo que houvesse nos bolsos

E mesmo assim

Tinha sim

hora e lugar pra ser

Mas demorou pra perceber

Que a real felicidade

Independe da nossa vontade

das nossa lembranças

E também das nossas crenças

Pois chega do inesperado

Sem nem ao menos pedir licença

Edson Ricardo Paiva