A "CASQUINHA" DA MINHA FERIDA
Já era primavera e naquele jardim eu tentava compreender,
O porquê essa ferida do inverno ainda sagrava sem cicatrizar,
Estava sentado sobre a grama, escondido entre as flores, sem saber se você me via,
Eu imaginava como seria um “oi, tudo bem?” vindo de você,
Mas eu resistia à sua beleza, como quem admirava somente o florescer,
Às vezes os dentes não formam uma boa prisão para as palavras,
E o que haveria de tão errado iniciar uma conversa?
A tarde caia acelerada e eu pintava o verde da grama com este sangue,
E entre o manto de verde e as pinceladas de vermelho um diálogo começou,
Um ferido e um fechado, as flores me diziam que essas notas não formariam nova canção,
Foi quando desencanado comecei a confessar que guardava medos em gavetas no meu quarto,
Fui incentivado a jogar o medo fora, parecia um padre conduzindo uma alma para luz,
De repente senti que parou de sangrar, suas palavras eram a “casquinha” da minha ferida,
E uma porta fechada parecia se abrir lentamente, como se uma brisa a empurrasse, talvez eu ventasse.
Sábado, o sétimo dia, aquele que na história Deus descansou,
Foi no sábado que o jogo tomou formas, e as cartas foram uma a uma revelada,
Alguém não sangrava mais e um cadeado já enferrujado fora destrancado,
Choveu, a grama era somente verde, as flores eram sorrisos,
Os sonhos voltaram a ser sonhos, os medos somente um frio na barriga,
O raiar do sol e o nascer da lua andavam de mão dadas com o mesmo pensamento,
E o oceano parecia fazer lembrar que além do horizonte o bramido do mar pode cantar o amar.