A HISTÓRIA DO SOL QUE SANGRAVA

Quantas manhãs perdidas no inverno de um olhar que chorava solidão,

Portas batidas pelos ventos da desesperança, trancadas pelo sopro da desilusão,

Protegido em um casulo de lembranças, dentro de paredes espinhosas,

Era ele minha ferida, era eu meu veneno que em conta-gotas se bebia,

Muros erigidos aprisionando sonhos, sufocando esperança,

Em um sentir agoniado, sentado à beira dos próprios cacos,

Em seu caos, seguindo por uma linha embaraçada,

Amarrado nos temores dos dias em que o sol sangrava,

E a garganta engolia seco, porque o coração já era terra que não chovia mais,

Música que se tocava sozinho, em acordes sem versos, de letras sem rimas,

Era pele frágil que se derretia ao brilho frio de um solitário luar.

Mas um dia a flor machucada morre de vez ou volta a florescer,

Quem é você que contemplou o que já estava sepultado?

Que o timbre da voz parece arejar a respiração cansada, devolvendo o ar,

O coração está batendo como as ondas se debruçam sobre a areia da praia,

Liberando o sorriso como um músico alcança as perfeitas notas em seu violino.

Assim sou eu, que não lhe nego o sorriso e não disfarço o olhar,

E assim é você, que decifra detalhes e extrai o doce que resistiu ao tempo,

Em nome das velhas lembranças eu quero o melhor de nós, que valente suportou as feridas,

Que o oceano de distância seja breve testemunha que o mundo pode caber no coração.

Um dia o sol que sangrava será apenas história de um tempo perdido,

E as lágrimas que ocorrerem declamarão em silêncio sobre essa felicidade que nos amanheceu.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 21/01/2017
Código do texto: T5888940
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