REENCONTRO

No reencontro, apertam-se as mãos,

Beijam-se as faces, e olhares vãos,

Reconhecem-se a respiração, sentem-se os aromas,

Como que ambos dominados por um sintoma,

E tomados por tremedeiras dessas saudades retomadas,

Juntar caco a caco das taças estilhaçadas,

Como se a cola mágica do encanto devolvesse-lhes as formas,

Ali a saudade se esvai, mas as mãos suam, fugindo das normas,

E se buscam e se entrelaçam, e as peles se tocam então frias,

Mas se aquecem uma na outra, em outros tempos outros dias.

No reencontro se buscou o perdido,

Esvaiu-se em buscas quiméricas, aturdido,

Trouxe a si o vasto deslanchar de penas,

Tão presente no íntimo devastador apenas,

Como se preenchesse e saciasse sedes

Que nos colocam contra a parede,

E dilaceram corpos e devastam almas,

Numa mente completa do desejar a calma,

Num saciamento adquirido a esmo,

Colocando nossa harmonia em nós mesmos.

No reencontro é mais que preciso,

Mostrar as lágrimas, esconder o sorriso,

Entreter-se ao formal abraço,

Desvencilhar-se do frágil cansaço,

Ater-se ao seu presente conforto,

Sentir-se como barcos em pleno porto,

Vislumbrar por completo o horizonte,

Beber sempre da fresca fonte,

E no afrouxar do apertado enlace,

Poder contemplar o olhar e a suave face.

Porém o reencontro deve obedecer

O legado daquele seu bem querer,

O desconhecido presente no calafrio,

A dúvida espalha por todo seu brio,

E o perder de voz até assusta,

O lacrimejar dos olhos busca,

Como o tremor dos lábios apertados,

Dificulta o proferir sentimentos ocultados,

Mas busca-se a paz tão profunda,

Tal como a lágrima que os olhos inunda.

2.017