POESIA (O CANTO DA DEPRESSÃO)

Mulher bonita,

Parede bonita,

Noite fria,

Vozes na cabeça,

Deitado esperando a morte,

Dentes sujos,

Cabelo fedendo,

Mão com a ferida do preconceito,

A vida passa,

Tristeza nos olhos,

Um velho falando merda,

Uma beleza sem sombras,

Nada mais importa,

Um sonho de tomar banho,

A luz que rouba as carnes podres,

A boca fedendo a esgoto,

Morte e mais roubos,

Uma bela mulher com voz de anjo,

Uma palavra de medo,

A mão que treme no corpo mulato,

Não existe esperança,

Eu sou um vagabundo da espera,

Tristeza... Tristeza... Tristeza... Tristeza... Tristeza... Tristeza... Tristeza...

Onde está Deus?

Minha alma está morta cheia de agulhas da loucura...

O sangue é frio e passa com solidão...

Uma casa com anjos das trevas...

Onde está Deus...? Onde está Deus?

Muitas vozes na cozinha de moscas...

O corpo sujo de tristeza,

A cabeça que rodopia na quimera da insanidade...

Estou falando com as pedras...

A luz na casa abandonada por migalhas...

Bonita mulher de face dos céus...

Os dentes sagrando o vinho da imaginação...

Eu olho para o telhado...

Vejo sombras...

O silêncio das telhas...

As aranhas que esperam o meu sono da loucura...

Vejo brechas da violência...

O silêncio de Lúcifer a recitar poemas de crianças cegas...

A rede verde cheia de duendes...

A boca saindo o hálito da vergonhosa pobreza de cultura,

Não sinto mais paixão por nada...

Tristeza... Triste mulher sem cabeça...

É o fim das eras...

É o apocalipse da tecnología cruenta...

Sinto saudade do tempo perdido com alegrias...

O caminho dos cupins vermelhos de tinta...

A prece ao pai do ateísmo religioso que chegou na justa hora das pragas de santidade...

Onde está Deus? Onde está Deus?

Deus tu crías-te um mundo de lobos atrás de sangue do pecado...

Uma mulher nua que transa com a arte despida de beleza humana, mas alienígena...

Vou pro inferno sem música...

Meu Deus a depressão tá me matando...

Quero chorar de ódio e soberba de mim mesmo...

Eu te odeio mundo que me abortou...

Tenho pesadelos de uma tempestade de flores sem o verde da vida...

Estou tão triste... Sou culpado... Sou um fracassado... Sou um doente...

Estou com câncer na alma...

Para sempre a tristeza viverá...

Para sempre o medo governará os corações dos covardes...

Estou num poço de imaginação pífia...

É o fim do lobo sem perna e sem unhas...

Deus as sombras da minha casa falam...

As sombras da minha alma me tragam...

Sou realmente um pobre homem...

Estou imerço num labirinto de sofreguidão...

Estou imerço no sangue das ruas de bandidos...

Deitado sobre o caixão das labaredas da melancolía...

Meu Deus eu estou ficando louco...

Estou ficando na solidão das teias do passado hipócrita...

Meu Deus onde está minha realidade?

Faculdade não tenho...

Pois os sonhos de Janeiro é uma farsa...

Pois os sonhos do Céu eu desistí...

Não vale a pena ser santo tendo o coração mergulhado nas incertezas da vida...

Estou morto...

Estou morto meu Deus...

Onde está o lume das fantasías da paz?

Estou sozinho! E morrerei sozinho...

Estou numa cama de facas afiafas pelas lágrimas...

Onde está os sonhos dourados?

Acabou a dança das infindas sereias do meu cantar alucinado...

Deus...

Os olhos com vontade de dormir eternamente...

Os olhos com vontade de voar na terra das fadas dum breve adeus...

Telhas quebradas pelo orvalho do espírito...

Sonhos que a boca não pode contar-me...

Estou num oceano de lendas afãs...

A poesia me libertou dos demônios da fé...

Onde está a estrada que me conduz ao paraíso...

Pois entre a verdade e o mito só existe o ponto de interrogação da loucura dos crentes no inferno de qualquer paz entre deuses e homens.

Somente restou em tudo isto a canção da morte e do possível morto de amor...

Para onde vão as rosas quando falecem?

Muita paz entre as mulheres e os espectros da política dos miseráveis de algum bem...

Pois não existe anjos com asas... Mas muitos suícidas com chifres...

Pois não existe virgem sem honra... Mas muitos poetas cortados por facas dos desamores...

As sombras da minha casa estão em todo o mundo de depravados sem serem confeços libertinos da Bíblia de verdades cuspida pelo ego da reforma ateísta deste século custoso sem nenhum bem de pureza na mente...

Mas ainda virá palavras de espectação dum futuro menos hereje e sim liberto de beleza por beleza apenas... Por pena.