AMOR VERDADEIRO
O meu coração bateu mais forte quando, teu nome, alguém, eu ouvi pronunciar
A ânsia louca de estar a seu lado de repente me fez refletir meu viver e meu sentir
Algumas palavras de amor, guardadas a tempos, em meu cérebro, me pus a balbuciar
E para acalmar meu coração resolvi, sem sucesso, sobre eles, começar a mentir
Disse então, para mim mesmo, com toda a força da alma, que eu não mais te amo
Com a mesma tenacidade, mil vezes repeti que jamais iria procurá-la novamente
Para no minuto seguinte, prostrado, extenuado e abatido, em mais um reclamo
Render-me a este amor que me faz prisioneiro, cativo, voluntário e clemente
A implorar a atenção do seu ser e a contentar até mesmo com reles migalhas
Porque mais cruel que o desprezo e que todo maltrato é esta sutil indiferença
Que o não-sentir implacável traduz em concreta ereção de inexpugnáveis muralhas
A minar em meu peito a vontade maior de lutar contra essa terrível sentença
Viver a seu lado, desejá-la até mais não poder, sem intentar tocá-la, jamais
Tê-la em sonhos somente e abraçá-la, solerte e insolente, em momentos fugazes
Roubar-lhe o ósculo frio das frígidas horas de encontros e despedidas sociais
E ater-me ao deleite secreto que, de suscitar, os abraços ligeiros se revelam capazes
Mas, por favor, não condene um amor apenas porque ele não sabe conter medida
E que faz do ser que o sente, embora inocente, um eterno e infeliz condenado
Que ultrapassou as barreiras da encarnação sem pedir permissão ou guarida
Que ao tempo que queima, teima em objeto fazer-se, de um coração ufanado
Porque o amor verdadeiro, qualquer que seja, dá vida a tudo que vida não tinha
Traz colorido à natureza, harmoniza as notas da melodia, faz do sonho realidade
Faz da realidade fantasia, um segundo parecer século e um universo ser estrelinha
Faz feliz a quem consegue trazer para o ser amado, mesmo indiferente, a felicidade