O CABELEIREIRO

Paguei uma soma razoável

ao cabeleireiro que gentilmente

tosquiou-me as madeixas e adorável

ficaria eu, linda constantemente,

mas isso não ocorreu por uma razão;

cortou-me tão alto a linha da moda,

um pescoço longilíneo ficou a mostra!

Céus, o que fazer com aquela figura

a olhar-me treslouca do espelho?

Meus lábios dantes delicados, pura

paixão do meu amor, agora vermelhos

circo de horrores, abrem-se e fecham

num delírio de muitos ais,

que por pouco me enlouquecem!

Não posso cortar o pescoço, seria ideal,

mas impossível e o jovem de tesoura

na mão a olhar-me perplexo sem igual,

desmaia e o chão lhe ampara a loura

cabeça e me espanto, calma gente,

foi apenas um desmaio, inconsciente!

Chega-me a dona do salão em cacos

de vergonha, trazendo à mão peruca

de fios ligeiramente cacheados,

oferecendo-me até que o cabelo, meu,

alcance o tamanho desejado!

Hoje foi o primeiro dia daquele

trabalhador e eu sua primeira modele!

Eugênia L.Gaio-02/01/2017

Eugenia L Gaio
Enviado por Eugenia L Gaio em 03/01/2017
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