QUANDO A DERRADEIRA MANHÃ

Quando a derradeira manhã

se descortinar severamente

sobre a intranqüila cabeça

de quem amou perdidamente;

poderá perpetuar-se então

sobre o colóquio majestoso,

que se abre em fendas,

como machucado doloroso.

Quando a derradeira manhã

impor sua última parada,

sobre a mansão desguarnecida;

sentir-se-á como que arrasada

por saraivadas de pedaços

que a memória em fragmentos,

tentará salvaguardar-se então

das dores dos ferimentos.

Quando a derradeira manhã

fizer imperfeita parceira,

sobre a ilusão desmanchada;

seremos parte da cegueira,

como se a teoria em coluio

com a prática testada,

fossem esses pares únicos

dessa derradeira morada.

Quando a derradeira manhã

perfurar os tímpanos mundanos,

sobre a nefasta divergência

desses ruídos desumanos;

odiaremos o sol e sua bela lua,

numa descomunal batalha,

que o bem travará incondicional

peleja no fio dessa navalha.

Quando a derradeira manhã

enlouquecer os impuros,

sobre suas demências usuais,

causará os males futuros,

que serão despejados ao jorro

nessa encosta já prejudicada,

dessa consciência humana,

que pretendo ver erradicada.

2005