Eis a minha confissão

Eis a minha confissão:

Eu já aprendi pela internet

Que amor verdadeiro inexiste,

O que existe é paixão, é flerte,

Que ao queimar deixa apenas pó triste.

Eu já aprendi, é conto de fadas

Pensar que uma mulher pode amar;

Mulher apenas coleciona almas,

Como sereia: piratas ao mar.

Já aprendi pela televisão

Que homem tampouco sente amor,

Ele quer corpo, nunca coração,

Detesta compromisso por calor.

Às vezes pode se apaixonar

E pensar sinceramente que ama,

Mas em dez anos vai se revoltar:

“Ela não comparece mais na cama!”

Já aprendi ouvindo os mais velhos

Que casamento é uma loteria

Em que vencem apenas os mais belos

Que têm potência e carteira rica;

Ao resto resta a vida sozinha,

Pois mulher não gosta de homem frouxo

E homem detesta mulher fresquinha.

Aprendi, mas achei tudo tão coxo...

Queria, ainda, desde pequeno,

Achar um dia aquela mulher

Que não iria ligar se não tenho

Um carro, piscina ou chaminé;

Não exigiria dela um corpo

De manequim, modelo, panicat,

Nem um olhar que chamasse piropo,

Nem que ficasse linda de corpete.

Só quereria que fosse amiga,

Que desse a mão quando necessário,

Que fizesse parte da minha vida,

Comemorasse meu aniversário.

E a ela não daria dinheiro,

Mas versos vindos de meu coração:

Ela seria rica em respeito

Sem precisar que pagasse um cartão.

Sei que isso parece pedir muito,

Ter alguém que se contente com pouco...

Não é como funciona o mundo,

Amar assim é ideia de louco.

Pois a regra é: o amor é chama

E, como chama, há de se apagar;

Para mantê-la é preciso grana

E saber fazer pescoço virar.

Aprendi bem, eu sou um bom aluno,

Mas não praticarei essa loucura:

Vou contra o mundo, eu sou contra tudo,

Antes dum divórcio eu morro na rua!

Nasci humano e não animal,

Tenho juízo a reger minha vida,

Eu não dependo de prazer carnal,

Eu só dependo de monogamia.

Aprendi, sim, de mim para mim mesmo:

Felicidade está nesta regra:

Cada um deve ter só um parceiro,

Escolha, portanto, pessoa certa.

Meu sonho é ter uma companheira

Que se rebela contra a sociedade,

Juntos seremos a vida inteira

Um raro casal que vive a verdade.

26/12/2016

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 26/12/2016
Reeditado em 27/12/2016
Código do texto: T5863822
Classificação de conteúdo: seguro