Sobremesa de vingança
Sobremesa de vingança
Sobre um peito ferido
Despeje quatro xícaras
De acirrada incompreensão,
Depois misture bem
Adicionando aos poucos
As lágrimas de alguém
Que já tenha sofrido
As punhaladas de uma traição.
Então ponha de lado
A massa a descansar
E em seguida vá untando
Com óleos de tortura
A forma do coração,
Mas a mantenha aquecida
Nas chamas da loucura
Conservando-a em banho Maria
Até que chegue o momento certo
De levá-la ao forno da razão.
Depois vá abrindo devagar
A massa já preparada
E despeje aos poucos
Duas colheres de angústia
Para acrescentar a seguir
O sabor do desespero
Em duas pitadas de ódio
Colhidas do meu olhar.
Não se esqueça do fermento
Das fofocas das vizinhas
Ou o bolo não vai crescer
E pode até murchar!
E por ultimo
Despeje sobre a forma
Já pré aquecida
Do coração entristecido
Até que tudo venha derramar.
Deixe assar por algum tempo
Marcando no desperta a dor
À hora certa de servir,
Mas não se esqueça;
Essa mistura é feita pra dois
E deve ser consumida na hora
Sem que fique nada pra depois.
Sirva em taças de desprezo
Enfeitadas com pouco caso
E fique olhando de longe
Já pronto pra correr,
Depois de saborear esse prato
Com toda certeza
Alguém vai ficar aleijado
Ou vai morrer.