Poder e Fragilidade (ou um texto ingênuo) - 06.12.2016

O amor é poderoso e frágil. O amor atravessa, consome, enche as coisas que estavam vazias e apáticas com algo inexplicável, que transborda. Mas a guerra acaba com o amor.

O amor tem a potência de surgir em cada fresta, cada fenda, com ou sem Sol. Com ajuda ou com todas as adversidades, o amor nasce e cresce, torto ou retíssimo, e busca abrigo. Mas a maldade acaba com o amor, envenena-o de dentro pra fora, adoece tudo que poderia ser ou existir.

O amor é uma arma, mas ele normalmente perde. Contra os prédios, contra o trabalho, contra a indiferença e a falta de cuidados. O amor nos dedura para o mundo que nos embrutece. Ele mostra que existe algo frágil e poderoso que vem de dentro, e por isso é preciso estancar o amor antes que ele nasça. Porque ele poderia vencer.

O amor que vence é político. É uma luz nas sombras duras da cidade. O amor que vence dói, porque sente. Mas também é terno. Quer se espalhar, se compartilhar, pois sabe que, se o amor sempre vencesse, a humanidade estaria salva. Cada vez mais haveria vontades de respirar, de tocar, de ouvir, de existir. A vida estaria salva. Mas, se o amor vence, basta um único tiro, e tudo acaba.

Ainda sim, o amor teima. Não há avisos nem comunicados, mas se sabe que o amor é sorrateiramente caçado, perseguido nos pequenos gestos cotidianos, em todos os lugares, querem acabar com o amor. E essa perseguição esvazia o ser, vai tornando tudo mais e mais parecido com todas as coisas sólidas e rígidas, com todas as paredes, com o cimento, com tudo que nunca poderia abrigar o amor. Quando isso cresce, morre o amor.

O amor também é enganado por coisas que se dizem amor. Que compram e vendem. Que ameaçam, vasculham, forçam e fisgam até se parecerem com o amor. Isso não destrói o amor. Mas destrói as pessoas que amam. O amor precisa de cumplicidade, ou ele pode se ferir.

Enfim, o amor é poderoso. Por isso quer-se ele frágil.

O amor pulsa a parte humana da humanidade que se quer morta. Ele se permite, é inevitável, e toma conta de cada canto, cada mísero lugar. O amor é perigoso. Porque ele transcende, ele cria, inventa. Ele se adapta, se esguia até conseguir. Então, por que se quer que o amor não exista? Porque ele é a existência. Já é preestabelecido, é uma lei dada. Está na condição de ser vivo, e sempre estará. Por isso o amor é poderoso. Se se mata o amor, mata-se a existência.

E isso, já é bem sabido, muito interessa aos gananciosos...

David Ceccon
Enviado por David Ceccon em 07/12/2016
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