SERENA

Aqui, nesta praia distante e deserta,

Aonde a agua do mar sempre bate, serena,

Vivo, rolando por ondas que são sempre certas.

Paro aqui e acolá, sou um grão de areia apenas.

De dia, aquecido pelo sol, molhado pelo mar,

Sempre na companhia de outros grãos, meus irmãos,

Vou vivendo essa minha vida sem reclamar,

esperando o dia de sumir na total erosão.

Mas é quando o sol se pôe e a lua nasce,

É que esqueço de todo sofrimento da lida.

Pois, lá no firmamento, tão bela, aparece,

A estrela que um dia, dediquei minha vida.

Nessa hora, por Deus, que por todos nós zela,

Aceito todas as agruras que o destino reserva,

Contento-me em ve-la passando singela,

Tendo a futil ilusão que ela também me observa.

Ela, poderosa, segue o seu caminho, brilhando,

Iluminando meus pensamentos e o meu coração,

Eu aqui na escuridão, pobre grão, vou pensando,

O que posso fazer para chamar sua atenção.

Ela que vive cercada de outras estrelas,

Deve ser cortejada por alguma também,

Não ligará para quem, aqui nesta praia,suspira por ela,

E do seu amor se tornou um refém.

Mas, tenho quardado comigo a esperança,

Que um dia eu possa de amor lhe falar,

Pois o que resta a quem ama senão a fugaz confiança,

Que Deus o permita pelo menos sonhar.