MUNDO VIRTUAL

Hoje posso saber,

quando nasci

fui o bebê 3.185.509.432.

Não conheci o 3.185.509.433.

Se foi menino ou menina?

Não sei.

Se sofreu alguma doença fatal

ou cresceu

e adquiriu uma riqueza cujo valor,

(três bilhões, cento e oitenta milhões de dólares)

esteve próximo ao registro virtual do seu parto?

Nem desconfio.

Nada verifico a respeito,

além do numeral que esteve ali,

a uma unidade de mim.

Eu me casei com a 3.583.946.764

-vivia a muitos milhões de seres de distância-

e talvez a lonjura,

explique nossas diferenças.

Não estamos conectados pela mesma dezena, centena,

muito menos pelo primeiro milharal de pessoas,

no entanto, sonhamos grandezas

e geramos a 5.723.911.756

e o 6.694.101.669.

Mas não cruzei ainda com o 3.185.509.431

( o final 434 nunca me procurou),

se os visse ainda crianças

poderíamos falar de formigas e abelhas;

lembrar antigas peças de teatro,

como aquela que explicava

os efeitos dos raios gama

sobre margaridas no campo

e afirmar:

“Somos todos pequenas flores

no meio de dígitos e pétalas!”

Mas não sei quem é o final 433.

Ele que me chegou pelo mesmo cordão umbilical.

Fomos as mesmas aparições,

obras da mesma massa

- incluídas na ordem dos concebidos naquele átimo -

e nada me foi revelado da sua fortuna ou da sua desgraça.

Sou o 3.185.509.432,

antes de mim veio o 3.185.509.431,

contudo, quem garante o arranjo.

Posso supor que mudaram a sequência dos nascidos,

que a numeração do caos

também se insere no caos

e que a antimatemática é permeável:

“Uma criança nasceu agora

em uma província do Vietnã,

a mesma criança nasceu em outro lado do mundo,

no chifre da África,

final zero”.

DO LIVRO: "O ÚLTIMO FOGUETE"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 27/11/2016
Reeditado em 15/11/2019
Código do texto: T5836536
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