NÃO

Dentro de mim as entranhas se revolvem,

O coração calado sente o silêncio d'alma que insisti em dizer não.

O não que ergue o cadáver inerte daquele que antes crera na menina de Campos.

O não que sepulta a labuta dos apaixonados sem paixão.

O não que nega o amor sincero, um dito vero, uma história verdadeira.

Um não simplesmente afirmativo da vida.

Ah, se eu pudesse tornaria o tempo em imagem congelada e com um pincel faria nele a forma que quisesse!

Ah, como é bom ser Deus!

Como é confortável!

Perdoar, certa feita foi impossível!

Ela disse "não" milhares de vezes.

Ela disse que sem mim a vida bastaria.

E eu virei um quadro solitário na casa abandonada sem ninguém.

A casa das sombras, dos pesadelos, das imagens noturnas e dos sussurros na madrugada.

As dores nos ossos e juntas, as frias noitinhas logo depois das bucólicas tardinhas e a voz que me dizia: "Está me evitando?" me surge na vista como um precipício no fim da pista.

- Todo mundo se queixa do outro!

- Todo mundo é o outro e o outro é todo mundo!

Mas, o não é só meu.

O não que me trouxe para serra onde as águas correm calmas.

O não que me diz sim a vida novamente.

É preciso dizer não, diz o poeta.

É preciso dizer o não a tudo que na essência já era não.

O não era do amor que se diluiu no tempo.

Ah, coitado dos desatentos!

Amaram e se esqueceram da rotina das horas.

- Minha pombinha foi embora!

- Meu gato se foi!

- Como é dura a vida de quem perdeu a batalha do coração!

Eu chorei por ti trezentas noites.

As lágrimas me eram açoites, e a esperança de te ver uma peça fria de necrotério.

Ao sair levaste a chave da casa e fiquei preso nela.

Tentei pular a janela dizendo-te: “O novo é possível”.

Mas, minha voz se tornou uma velha resmungona.

E nossa vida um domingo na escola dominical.

E, tua voz aos meus ouvidos, na quietude da noite ou na pia de pratos era uma sanfona mal tocada como fundo musical.

- Não! É isto e pronto!

- Eu digo não!

Disseste não a vida toda.

Fizeste o não ladeira abaixo.

Subiste o morro com o não nas costas.

O não foi sempre um maldito não!

Não me perguntes mais o porquê do não.

Não tenho respostas, exceto, a vontade de viver.

Sim, é um não para um sim a vida.

Então, não...

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 25/11/2016
Código do texto: T5834001
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