Atraquei minha canoa à ilha

Atraquei minha canoa à ilha;

Pela fúria do mar nutrira ódio.

Quis maior sentido à minha vida,

Era sujo demais o do mar pódio.

Com um machado derrubei um tronco,

Continuei por mais vinte e seis,

Quem me visse diria que estou louco,

Mas até a canoa eu quebrei.

Chega dessa vida tosca de nauta,

De meu passado só trarei a calça.

Estava construindo a parede

Com ódio no peito, ódio a tudo,

Depois faria pra mim uma rede

Para fazer de meu em vida túmulo;

Fui descansar (por hora na areia),

Fechei os olhos e adormeci;

Quando acordei precisava de ceia,

Talvez encontre frutas por aqui.

É a nova vida que viverei

À outra antiga nunca voltarei.

Enquanto escalava a oliveira,

Notei algum movimento ao meu lado.

O que será naquela cerejeira?

Pode ser algum tipo de macaco.

Enchi os bolsos, então fui checar

Se era mesmo um macaco nas flores,

Quando olhei, quase me vi tombar:

Era uma garota em meio às cores!

Desde quando você está aqui?

Esta ilha era só para mim!

Corada, ao chão comigo ela veio,

Disse que acabara de chegar,

Pediu desculpas por agir tão feio,

Que outra ilha iria achar.

Você não precisa, eu respondi,

Ali só não podiam os piratas;

Ficamos juntos a partir dali,

Éramos dois contra todos os nautas.

Semanas depois, o inevitável:

Notei como ela era amável.

Em nossa casa, bem de manhãzinha,

Vi-a dormindo tranquila na rede.

Quase segurei a sua mãozinha,

Era do mais lindo tipo de gente.

Fui colher frutas pro nosso café,

Aproveitei e busquei umas flores.

Cerejinhas daquele mesmo pé

E as flores daquelas mesmas cores.

Preparei tudo, deixando bonito;

(Será que namoraria comigo?)

Passaram-se os café e almoço

Sem eu conseguir fazer o pedido;

Fizemos um ensopado gostoso,

Mas não disse o que estava sentindo!

Após a janta, depois de comermos,

Encarei bem fundo os olhos dela.

Em nosso futuro o que seremos?

Seja o que for, quero ser com ela.

Peguei sua mão e abri a boca,

Disse, então, com a minha voz rouca:.

8/11/2016