Erros & Eros
Aos amores intensos que tanto fiz pouco,
Não vos quis debochar. Não é orgulho algum,
Nem sequer gosto de fazer-me de insensível.
Por vezes, só me escondo num papel de mouco,
Para fugir ao encontro deste enfadonho jejum.
Que emoções sentir, onde só me há fome invisível?
Foi aquele anjo mau. Atordoa-me, dizendo-me amar.
Rio-me dele, tadinho, não sabe lá o que diz.
Quem gostaria de passar os dias hipnotizado,
Rompido de sua força, e ao final, se lamentar.
Deus me livre! Quero mais é ser verniz
Dos meus sonhos solo. Anjo louco, tenha-te calado!
Aos trancos e barrancos luto contra mim; Amor.
Faço o possível para de ti me desencontrar.
Quem é que vai querer amar-te, Amor?
Vou à morte quando amo, ó Senhor!
Tu que venhas atrás de mim, vou te mostrar
Que de nada adianta se não me fazes valor.
Faço birra e não descanso, sequer. Penero-te
Para que me leve aos poucos e não me transbordes
Os excessos, os orgulhos, minhas juras e afins.
Não quero mais do que posso levar, dilacero-te
Se preciso. Não adianta, vai que tu acordes.
Suma com tua turma de desocupados querubins!
Sou daqueles que acha tudo um furor romântico,
Viver o sentimento à conta gotas. Desfazer-me
Dos embaraços do acaso, para depois junta-lo
Em pequenas peças coloridas do reger semântico.
Tu Eros, me apressas nas coisas do viver-me
Quando o que quero é o tempo de sonha-lo.
Os amores menos intensos é que me interessam.
Desses que fervem em banho maria por horas,
Semanas e dias. Admita poeta, não me esqueças
Que o coração ama. E grita louco, não me arrefeçam!
Assim, as vinhas das maduras paixões que me afloras,
No amor que de mim fujo, alma, tu te fortaleças.
Hernâni Arriscado - Erros & Eros.