OLHOS ÚMIDOS, DE CLARISSE

Vejo-me em uma guerra constante.

Ouço palavras em várias línguas.

Sinto um forte cheiro de sangue

dos corpos que caídos a meus pés,

ainda palpitam agonizantes de dor.

Fecho os olhos...

E o que vejo senão uma noite fria.

São grossas camadas de gelo

que caíram durante toda a noite,

dentro do meu interior aflito.

As lâmpadas do túnel se apagaram,

e o que consigo ver é somente um olhar.

O olhar ainda úmido, de Clarisse,

a se despedir de mim, na beira do cais.

Agora o frio, também toma conta

do meu corpo, do meu sangue e de minha’lma.

Encontro me em um alto mar tempestuoso.

Sei que amo muito a Clarisse,

Mas não devo mais alimentar a esse sonho.

Tento afugenta lá inutilmente de mim,

mas ela sempre me vem novamente

com seu sorriso amável e doce.

Foi assim que eu a conheci.

Foi assim que a vi pela vez primeira.

Não sei o que teria sido de nós dois,

se acaso eu tivesse resolvido a ficar.

Talvez fosse uma luta sem glórias,

e o envelhecimento precoce,

a amargura e por fim o tédio

viessem se apossar de mim.

Fecho os olhos e deixo me levar

pelo os pensamentos que me embalam.

E os olhos úmidos, de Clarisse,

vem me como um doce fantasma,

a me assombrar a memória.

Não devo mais pensar nisso.

Se eu tivesse ficado,

o que seria de nós dois?

Nova serrana (MG), 18 de março de 2013.

Tadeu Lobo
Enviado por Tadeu Lobo em 12/10/2016
Código do texto: T5789864
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