Despindo-me

Sinto saudade, saudade do viço, da vontade, da vida.

Um tempo que o desafio era transformado em garra.

O tempo simplesmente passa, sem propósito.

O frescor da manhã não tem significado.

A cada dia de vida um dia a menos de esperança.

A esperança de encontrar um rasto, um sinal

Vestígios de um tempo em que o tempo, tinha tempo.

Tempo de viver e de amar.

Muito esperava, nada consegui tudo me tiraram.

Sentimento que teimam em arrancar do meu peito.

Tal erva daninha, que mata e sufoca o seu redor.

Mas de teimoso insiste em não findar.

Amanhecer, anoitecer, que diferença faz.

Quando as manhãs são noites, e as noites sem brilho.

Os dias e as horas, somente passam; passam e nada deixam.

Passam e levam a vontade e o sabor.

Resta a espera a ansiosa espera, uma espera infindável.

O momento apoteótico do descerrar das cortinas.

O ato final de um teatro que virou monólogo.

Monólogo que se cala, texto esquecido.

Adeus, há Deus ou a Deus... Dispo-me de mim, dispo-te de mim