JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE - SOUSÂNDRADE (1833 - 1902) ROMANTISMO - POESIA - 3ª GERAÇÃO

Joaquim de Sousa Andrade, conhecido na Literatura Brasileira como “Sousândrade” (Guimarães, Maranhão, 09 de julho de 1832 a 21 de abril de1902 – São Luís) ficou por muitos anos esquecido, até que no início da década de sessenta torna-se “conhecido” graças ao trabalho dos poetas Augusto e Haroldo de Campos que “reeditam” e discutem sua obra.

Suas liras (poesias sentimentais) são belas e podemos considerá-lo “modernista”, porque em seus poemas existem milhares de neologismos (palavras novas), inversões e muitas ideias originais.

Cosmopolita, isto é, “viajante” na América, viveu um longo tempo nos Estados Unidos (Nova Iorque). Morreu pobre, esquecido e com fama de louco.

Sua frase mais famosa:

“Ouvi dizer já por duas vezes que o Guesa Errante será lido 50 anos depois; entristeci – decepção de quem escreve 50 anos antes”.

OBRAS, segundo Massaud Moisés:

a) Harpas Selvagens – 1857;

b) Obras Poéticas – 1874;

c) Impressos – 2 volumes; 1868,1869;

d) Guesa Errante – 1876, 1877;

e) Novo Éden – 1893;

f) Inéditos (Harpas de Ouro, Liras Perdidas, “O Guesa e o Zac”) – 1970;

g) Prosa – 1978.

EU, QUE DOBREI QUAL VERDE BRANDA VARA

SONETO

Poesia de forma fixa, de origem italiana, do século XII, composta de catorze versos (cada linha gráfica do poema), divididos em dois quartetos (quatro versos) e dois tercetos (três versos).

O soneto de Sousândrade (Joaquim de Sousa Andrade) é formado por versos decassílabos (dez sílabas poéticas) e possui o seguinte esquema de rimas: a – b –b - a/ b – a – b - a/ c – d - c/ d – c - d.

Está convencionado, entre todos os estudiosos da literatura, que o título do soneto será o primeiro verso do quarteto inicial quando não for nomeado pelo autor.

A escanção (divisão em sílabas poéticas) do primeiro quarteto fica da seguinte forma:

(a) Eu,/ que/ do/brei/ Qual/ ver/de/ bran/da /vara

(b) Dos/ de/ser/tos/ ao/ vem/to, e/ da/ ver/dade

(b) Do a/mor/ e/ des/ta/ do/ce/ li/ber/dade

(a) Sa/cri/fi/quei/ des/cren/te à /ter/ra a/mara, (...)

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SONETO

(a) Eu, que dobrei Qual verde branda vara

(b) Dos desertos ao vento, e da verdade

(b) Do amor e desta doce liberdade

(a) Sacrifiquei descrente à terra amara,

(b) Amo-te! — Se soubesses a saudade

(a) Que dos risos se tem... Oh! doce e cara,

(b) Volve os teus verdes olhos com piedade,

(a) Como a Virgem dos céus, consola e ampara!

(c) Vem, como o anjo, que se vê descido

(d) Sobre o túmulo alvar, nevi-luzentes

(c) Meigas asas abrir! Vem, que é perdido

(d) O veneno da flor! — Hoje inocentes

(c) Perfumes solta o lírio anoitecido

(d) As auras dos jardins frescas e olentes.

(Joaquim de Sousa Andrade – Sousândrade)

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SOUSÂNDRADE: “CARTA-TESTAMENTO”

Se eu escrevesse um prólogo, seria tão somente pedindo ao público me desculpasse de lhe haver oferecido os meus concertos — frios, tão mal entoados e rústicos. A dor, os sofrimentos, a saudade foram o anjo desgraçado dessas inspirações como o grito fatal das aves da noite. Eu nunca os pretendi publicar — os restos disputados aos vermes e ao tempo seriam roto cipreste ao meu túmulo — que, se um dia o pensasse, certamente não os teria escrito, nunca eu seria poeta, ainda só pelos escrever. Eu os cantava descuidado, sem dar-lhes nome os perdia — quando o peito mais leve como que adormeceu.

Porém, a sorte falou mais perto..., e hoje os procuro para dá-los. Estremeço às fráguas por onde eles tem de rolar, e tenho remorsos de haver dado cousa tão má. Eu nunca os pretendi publicar: foi à sorte que falou de mais perto: perdoai.

Safara e inculta, aos auspícios da Infortuna pálida, a terra só produziu flores venenosas: não as respireis; passai longe do vale — eis o caminho. Toda via, eu amo naturalmente esta vida errante, sem lei nem futuro: inseto em arribação contínua, tuas asas cortaram, cairás em teus primeiros zumbidos. À sombra do teu nome, doce irmã, bela e feliz Maria José, eu teria abrigado os meus primeiros ensaios; porém, não encontrei neles um reflexo divino da poesia de que só mereces de ser rodeada, e encolhi o meu desejo. É a sorte que me anda iludindo, eu não morrerei ainda.

Eu vejo um firmamento de vasto azul, um astro se levanta no meio. Tudo desmaia em torno de mim: é que nada era estável; e tu, única realidade que eu vejo, eu vivo, tu existirás!

Abstenho-me de ajuntar a este volume, por já tão longo e de certo fatigante, notas sobre lugares, costumes e nomes naturais, que por falta de indagações científicas possam ainda ser desconhecidos.

Rio de Janeiro, 1857.

JOAQUIM DE SOUZA-ANDRADE

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REFERÊNCIAS:

01. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura.

SP: Editora Cultrix, 2006, 43ª ed.

02. CEREJA,William Roberto & MAGALHÃES, Teresa Cochar. Literatura Brasileira.

SP: Editora Atual, 2005, 3ª ed.

03. MOISÉS, Massaud. História da Literatura Brasileira.

SP: Editora Cultrix, 2001, vol. – Das origens ao Romantismo, 1ª ed.

_____ A Literatura Brasileira através dos textos.

SP: Editora Cultrix, 2002, 23ª ed.

_____ Dicionário de termos literários.

SP: Editora Cultrix, 2004.

<www.cultrix.com.br>

04. NICOLA, José de. Literatura brasileira: das origens aos nossos dias.

SP: Editora Scipione, 1998.

05. SOUSÂNDRADE, Joaquim de. Guesa Errante.

SP: Poeteiro Editor Digital, 2016, Livro nº 474. (Projeto livro livre).

<www.poeteiro.com>

06. SOUSÂNDRADE, Joaquim de. Liras perdidas.

RJ: Clube de Autores ,2011. (Org. Augusto de Sênior – Amauri Carius Ferreira)

<amauricarius@yahoo.com.br>

Rio, 10 de outubro de 2016.

Augusto de Sênior (Amauri Carius Ferreira)

<amauricarius@yahoo.com.br>

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