LÁGRIMA DE ZIRCÔNIA
Deito só mas não sozinho.
Tua presença assalta meus sentidos
E sonho.
Sem pedir licença o orvalho da noite acumula
Sobre meu rosto e escorre.
Martiriza-me a lembrança de haver dito a frase errada.
“Eu quero você pra mim” é uma frase egoísta.
Diz o que quero, mas não diz porque quero.
A frase correta, a frase atravessada,
A frase que me desnudaria e por isso mesmo
Deixar-me-ia inteiro e visível
Seria: “Eu amo tudo em você”
E porque eu amo tudo em você
Eu quero você pra mim.
Pela manhã o orvalho da noite já cristalizou-se.
Recolho entre os cristais uma lágrimas de zircônia.
Darei a minha amada essa lágrima morta e fria.
Realidade palpável de uma dor quase sadia.
Não pedirei desculpas por ser poeta.
Pedirei por não saber matar-te dentro de mim.
Como mata a tua ausência
A única roseira do meu jardim.
**Harleci Rodrigues**