reflexos conexos

imaginas que o doce

possa ser mais que o amargo

imaginas que o fardo

não tenha sabor e nem peso

imagino-me ileso

diante de ti, mas me ardo

quando tu colocas

diante de mim o desprezo

imaginas que a queda

seja maior que a altura

imaginas a alvura

que o teu pecado enegrece

imagino-me a prece

que me revela a candura

que tem o teu corpo

quando ele se oferece

imaginas a vida

querendo ser mais que a morte

imaginas a sorte

brincando de ser proibida

imagino-me a lida

que tenho pra tê-la ao meu lado

sem o resultado

de que seja bem sucedida

imaginas que o quente

possa ser mais que o gelado

imaginas o alado

que não quer voar por preguiça

imagino-me a missa

que pouco esclarece o crente

que vive doente

pela mulher que o enfeitiça

imaginas a estrada

chegando ao final da estação

imaginas a ação

que nunca foi perpetrada

imagino-me o trem

cujo apito não chama a atenção

desse teu coração

que só vive com a porta fechada

Rio, 04/10/2006