Quando verso sobre tua beleza
Quando verso sobre tua beleza
Sinto que verso sobre o divino,
É como versar sobre a natureza.
É como versar sobre o destino.
Mas novamente desejo tentar
Cumprir esse feito de desatino,
Que és a melhor irei declarar
Enquanto for homem ou for menino.
Nem mesmo anjos podem superar
Esse teu jeito de me encantar.
Tamanha é de teus olhos clareza
Que só de ver-te um brilho me invade,
Perco malícia, perco esperteza,
Cresce uma estrela que em mim mal cabe.
Igual a uma força me puxando,
A mim gritando “Desabe! Desabe!”
Então meu corpo mole, desabando,
Cai nas costas de uma bela ave.
Primeiro grito “Eu estou voando!”
Depois eu “Não, acho que estou amando!”
As tais penas são de uma nobreza
Que nem devia querer me tocar,
Mas mesmo assim essa ave princesa
Me leva num voo a passear.
Nós visitamos as nuvens do céu,
Demos nosso olá a astros brilhantes,
Brincamos que mundo era chapéu,
Sobre a lua viramos amantes.
Se há antônimo pra mausoléu,
Esse há de ser um beijo de mel.
Isso teus olhos, garota bonita!
Pensa quando cito todo teu rosto!
Esse teu rosto belo de menina
Que - eu sei - agrada ao melhor gosto.
Tem o par de bochechas mais macias
Com os poderes de deixar disposto
O menino triste de falas frias,
Fá-lo até esquecer que é tosco!
Todas as difíceis tristezas minhas
Tu mandas embora todos os dias.
Podes achar uma absurdeza,
Mas tu és mais bonita que devias!
Há limite até para gentileza,
Dar-me esperanças tu não podias.
Pensar que irei ficar com alguém
Que não possui tantas assimetrias...
Como eu posso acreditar, hein?!
Céus, menina, será que tu serias
Uma mais das de Afrodite filhas?
Alguém assim da alta realeza
Ao ter-me nos braços se joga fora,
Ó ser provido de delicadeza,
Por que não foste ainda embora?
Desejar-te... como ouso tal cousa?
Eu preciso ser alma que só chora.
Pois se eu sou uma alma que ousa
Querer-te então sou alma discórdia.
Mais burro e arrogante do que raposa,
Sou eu: por querer flor como esposa.
Alguém tão lindo que pode escolher,
Escolher a mim? Soa impossível.
Sinto que no final eu vou morrer
Sem achar minha vida verossímil.
1/10/2016