Quando tu Choras ( Casimiro de Abreu)

Quando tu choras, meu amor, teu rosto

Brilha formoso com mais doce encanto,

E as leves sombras de infantil desgosto

Tornam mais belo o cristalino pranto.

Oh! nessa idade da paixão lasciva

Como o prazer, é o chorar preciso:

Mas breve passa - qual a chuva estiva -

E quase ao pranto se mistura o riso.

É doce o pranto de gentil donzela,

É sempre belo quando a virgem chora:

- Semelha a rosa pudibunda e bela

Toda banhada do orvalhar da aurora.

Da noite o pranto, que tão pouco dura,

Brilha nas folhas como um rir celeste,

E a mesma gota transparente e pura

Treme na relva que a campina veste.

Depois o sol, como sultão brilhante,

De luz inunda o seu gentil serralho,

E às flores todas - tão feliz amante -

Cioso sorve o matutino orvalho.

Assim, se choras, inda és mais formosa,

Brilha teu rosto com mais doce encanto:

- Serei o sol e tu serás a rosa...

Chora, meu anjo, - beberei teu pranto!

Casimiro de Abreu
Enviado por Miguel Toledo em 22/09/2016
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