Fugir para uma Choupana
Às vezes dá vontade de fugir
Para bem longe, a uma choupana,
Poder ficar bem longe e sentir
Ao menos ter uma vida humana.
Deste mundo eu me sinto cansado,
Coisas enfadonhas perturbam sempre,
Quero ir embora, ficar descansado,
Dar uma trégua a minha própria mente.
Ter minhas férias, ter as minhas férias,
Ir pra natureza, longe das feras.
Haveria uma simples choupana
Próxima a um humilde riacho,
Pela manhã, toda a molhada grama
Teria um cheiro manso de orvalho.
Um escapismo na vida real,
Não no romantismo, que é mentira,
Mas de verdade, na vida atual.
Escapar de nossa urbana sina.
Quem me dera ir pra lá descansar,
Quem me dera um tempo lá passar.
Gritaria com toda minha força,
Gritaria para os peixes na água,
Grito gutural, animal, à toa,
De agitar pelo, escama e asa.
Não pensaria em minha lição,
Não pensaria em minha carreira,
Lá não haveria competição,
Não haveria primeiro ou primeira.
Seria o lar de toda a paz
Onde ninguém precisa ser sagaz.
Você iria para lá comigo?
Não precisamos muito conversar.
É só que não haveria sentido
Não ter você para acompanhar.
Nós dois, lá longe, de férias, a sós,
Cantando em notas tortas, mas belas.
Quem haveria de olhar a nós?
Ninguém. Pois não haveria telas.
Não faria mal que fôssemos tímidos,
Juntos nós ambos seríamos íntegros.
Pela manhã beijaria seu rosto,
Diria "Olá, ó querida, eis nosso novo dia",
Então com carinho em seu pescoço,
Para o café eu a convidaria.
Enquanto comesse seria linda,
Uma princesa se alimentando,
Tão delicada, tão simples, menina,
Apenas comendo e respirando.
Simples igual a nossa choupaninha,
Seria alegre a nossa vidinha.
À noite eu ligaria a vitrola,
Convidaria você pra valsar,
Nós valsaríamos por mais de hora
Sem precisarmos nem mesmo ensaiar.
Antes de dormir, o céu estrelado
Testemunharia a nossa janta.
Diria a você em meu abraço
"Querida, é você quem me encanta.
Por fim, sobre a cama, sob o lençol,
Sonharíamos até vir o sol.
15/9/2016