O NOSSO AMOR NUMA PEÇA
O NOSSO AMOR NUMA PEÇA
O nosso amor, algum dia, estará numa peça:
um poema dramático, labiríntico e aberto.
Os holofotes o abraçarão com cores quentes
e frias furtadas aos teus olhos e nuanças;
tons que irão do mel ao mar de glauca esperança.
E um’outra atriz o desencantará de entre
silêncios e fibras. Letras, pausas e ecos.
Será forçoso dançá-lo em certos trechos; sim:
de pés descalços e mãos desatadas no tempo!...
Quem sabe tu mesma, quando eu for lembrança,
me devolverás à vida, girando, desabrochando!
E murchando...
No imo do palco, entre vitrais.
O nosso amor será lágrimas a correr das faces
amornadas; será aplauso, maquiagem borrada.
As lâmpadas do camarim ainda o reterão
e o espelho sem bordas nos verá: reunidos.
O nosso amor algum dia será mentira.
Mas traduzirá verdades de todo irrefutáveis.
E ali onde tudo é possível seremos dois
e em um só; teremos filhos nos braços
de cada espectador a pulsar nossos corações.
Nossas sombras, clarões. Sístoles e diapasões.
Igor Buys