A Carne Crua

Guarda tua beleza de luxo, irreal,

às exposições sociais e seus protocolos,

quando exibes escapes de teu colo,

como parte dum sofisticado ritual.

Entre risos contidos e cochichos,

eu quero mesmo é o teu lixo!

Quero tua porcaria inteira.

Desleixo anterior à maquiagem,

com manchas e remelas que te fazem,

mais que elegante:

Verdadeira.

Guarda tua aura mítica, para o dia do juízo

convencer aos anjos tua candura,

perpetuar-te no paraíso.

Eu quero é tua boca suja!

Descabelando palavrões e risos,

com raiva pura, tua linda face escura...

Esconde-te perfeita dessa porta para fora,

que aqui só a tua falha mora.

Espalhadas nossas máscaras para todo lado,

descalços, disformes, de moletom surrado,

...nossos corpos largados a esmo:

aqui dentro só quero nós mesmos.