Pequenos pedaços

Ainda estou na mesma rua, mesmo número, sou a mesma, no mesmo endereço

Se não me procurar, não precisa me explicar, já sei que você não me tem mais apreço

Se me ligar, me convidar, qualquer dia, qualquer hora, quem sabe não apareço

Você pode achar que sim, mas não me conhece tão bem, pois o que vivi jamais esqueço

Só sei que não preciso me prender, nem a você nem ao meu ego: eu não mereço

E não vamos mais discutir, não quero mais conselhos

Só preciso de uma conversa comigo mesma em frente ao espelho

A batida do tambor bate meu corpo, dizendo: sai pra fora o que há dentro de mim

E tudo o que corre no meu corpo é meu sangue, sem força, ainda cor de carmim

E não quero sair pro palco, pras luzes, me deixa em paz no meu camarim

E o show continua lá fora, atrás das cortinas, e ouço tudo, ao ritmo do tamborim

E o artista esquece a arte e começa a viver e a pintar... um retrato... em nanquim

E tento, os mil espaços

Preencher com pequenos pedaços

Reunidos em meus braços

Porque desatamos nossos laços...

Desfizemos os abraços

Como cantava Cássia Eller: "eu sou poeta e não aprendi a amar"

Mas como ainda estou viva, devo fingir e a ninguém devo contar

Todos os dias procuro por maçãs envenenadas no imaculado pomar

Pra matar essa loucura de, a toda hora, dentro de mim, sua voz escutar

E todos os dias sinto sua falta e ouço meu nome você chamar

Mas eu não mudei nada, ainda sou a mesma que você conheceu

Meu sentimento não mudou nada, é o mesmo que você acendeu

Meu semblante não mudou nada, é o mesmo pelo qual estremeceu

Minha vida é quase nada, pois meu corpo ainda não te esqueceu

E minha paixão não é nada, comparado ao tanto que com você ardeu

Ka Y
Enviado por Ka Y em 03/09/2016
Código do texto: T5749507
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