GATO PERSA

Vago deste amor, atento a tudo,

Como Hórus que vê a dúbia palma,

Não serei, amor, essa empresa

Que a tragédia grega encena.

Da alma que delirante trafega

Entre mundos incertos da canalha,

Eis que me espalha a noite no sangue

E exangue me cobre a vil mortalha.

Podereis dizer "morreu tão jovem..."

E eu serei então justificado

Quando do Egito a nau dos delirantes

Atravessar o norte do estige.

Assim, ó vida que ultrapassa,

Terei do amor a égide erguida

E enquanto houver inverno ao norte

Mais fria se tornará a minha sorte.

Adeus ó rainha de Pátmos,

Adeus pirâmides e efígies,

Da liteira que me leva sou escravo,

Deste amor que me mata sou esfinge.

Gilberto de Carvalho
Enviado por Gilberto de Carvalho em 31/08/2016
Código do texto: T5746334
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