REMETENTE SEM DESTINATÁRIO
Eu já não tinha muita tinta nesta velha caneta,
Mas precisava lhe escrever sem saber se seria suficiente,
Diluía palavra por palavra em água salgada que vertia dos olhos,
O papel estava um pouco sujo e amaçado,
Todavia, cada letra era importante para mim.
Escrevi, sem um endereço para enviar,
E era isso que mais doía nas eternas noites,
Eu era só um remetente sem destinatário,
Registrando frases em um papel.
E para ninguém, eu escrevia sobre tantas tardes perdidas,
A beira de uma praia vendo o sol se pôr,
Buscando no horizonte a salvação desta dor,
Que se perdia ao contemplar as gaivotas voando,
Desejando encontrar em um abraço as minhas asas.
Poetizava, sem conhecer o amor,
Que cantando e escrevendo o amor, ainda o procurava,
Na cama, a coberta quadriculada era o único abraço conhecido,
E à cabeceira, um ursinho disfarçava a solidão,
O velho papel diminuía seu espaço em branco,
Na medida em que o coração lembrava uma sala vazia de paredes pálidas,
Obrigando um ponto final onde eu queria vírgula,
Terminando a carta amaçada de um remetente sem destinatário,
Que mais uma noite iria adormecer sonhando em qual cais seu barco iria ancorar.