VIDA E MORTE: AMORES DO TEMPO
Partiremos quando o sol se pôr
Pois vai-se o dia então.
Morre-se quem vive de amor
Vive quem se ama de coração.
Em tua alma criam-se planos,
E teu corpo por fim se desfez
Troféu, da morte ganhamos tantos
E perdemos nesta sútil nudez.
Quero saciar-me até não poder
Trazer do fim o doce mel
Quem dera-me pelos teus campos correr
Caindo entre as gramas sorrisos teus.
Ficarei com as saudades tuas
Que das minhas mato eu
Já fiz pior em me perder
Deixo o meu para ser seu.
E da vida se fez a morte
Que da morte a vida se fez de maldade
Morre-se pelo profundo corte
Da faca envenenada de saudade.
E do cadáver da paixão
Que emana grande odor
Não sei se é cheiro do teu coração
Ou se é das lembranças o nosso amor.
E da noite fria tudo se revela
Descansa meu corpo no chão
E minh'alma querida se rebela.
Furioso em saber que és ilusão
Conta aos ventos de suspiros no relento
Que se vais e longe estão
Dois corações que unidos estão por dentro
Vive a saudade de dois amores que morrerão.
E come feliz o jovem corvo
Do corpo que o jovem corvo come
Carregue-me de mim até outro
Lugar em que a dimensão da morte se rompe.
Para desenterrar, querida donzela
Meu corpo que morre por ti
Das areias do tempo que se revela
Meu amor, se estabelece enfim.