Cicatrizes
 
Te procurei a esmo, nos cânticos das palavras
No canto em que te ocultas, mais te mostras
Vi tuas noites mal dormidas, vi teu intento
Teus pensamentos intensos teu tudo teu nada

A fragrância vinda de você é leve, breve, tons
Raros amadeirados e caros, como teus braços
Suficientes, diferentes como quem tem tudo para 
Oferecer de perto, mesmo estando ausente

As aguas em mim expulsas pela minha dor
Fez-se rio no descontentamento sem rancor
Fechou-se sem vida, sem direitos, sem vez
Barcos se destroem em aguas calmas? talvez

A decepção do que não era, a dor de não
Ter sido, a tristeza de saber que nunca será
Ao amar-te procurei suas cicatrizes, não as
Do corpo, mas as da alma as que doem...

As que forjam nosso caráter e que se tornam
Nosso alicerce e consolidam nossos sonhos
Nas ventanias da vida voar é minha morte
Suportar não é opção, é minha única sorte

Posso dizer das cicatrizes: elas não existem
E não serei eu a te ferir, o amor que há em
Mim não me permite, teus olhos fazem de
Ti o alvo e as flechas tu as crias e se voltam...

Contra ti, alimentas teu ego e deixa teus
Sentimentos morrerem de fome, faze-o não
Por mim, mas por ti, alimenta seus sentimentos
Esquece seu ego nem que seja por um momento.

Saiba eu também deixei tudo que tinha e o que era
Me quebrei para que você nem se trincasse
Ao mundo me fiz de surda, cega, muda e adoeci
Envenenada pelo sofrimento, me diluí.