Narciso
Na beleza de um olhar indiscreto,
vejo a trama derramar-se por
completo, em cores infinitas.
Da meiguice, vejo o quão profundo, nobre,
humilde gesto, pode haver no bem que seja
aperceber-te. Logo noto, este olhar, correspondido,
flagrantemente, proibido! Olhar que me persegue.
Do silêncio, racunho esmiuçado, obrado por quem
lhe tenha emprestado os olhos de Deus para transmi-
tir carinho, pois você, comigo, jamais, amigo,
ousará ficar enfermo nem a ermo (em desabrigo).
Do fim, ainda posso ver o início. Por isso, peço:
olhe para mim quando falar contigo. Quando eu te
olho, me vejo e quando te vejo, simplemente, não
vejo nem desejo. Além de ti? Mais nada...
Autor: Augusto Felipe de Gouvêa e Silva.
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