lembrando de lá...

Era um viajante, tudo impressionava seus sentidos.

As cores não podiam ser comparadas a nenhuma outra já vista;

Os sons excitavam cada pelo do corpo: parecia que dançavam à batida do vento;

O perfume que havia era doce, forte e marcaria ainda onze anos depois... talvez até o final da existência na verdade - e ele sabia disso.

A pele acostumada às diferentes temperaturas, nunca havia sentido aquela: era quente e fria ao mesmo tempo. Ardia.

Decerto que ele jamais veria aqueles olhos verdes brilhantes daquela mesma maneira.

E não teria os corpos entrelaçados daquela maneira.

Ele sabia. Mas insistia.

Uma vez provado o néctar secreto, o vicio pelo mesmo jamais poderia ser esquecido.

A noite passou num milésimo de segundo, mas aquele número ressoaria na mente dele por todos os outros segundos... ora mais intensamente, ora num sono quase eterno.

Cada reencontro o coração palpitava: ele queria voltar àquele paraíso. Mas ele se fechava. Havia algum bloqueio. Não poderia novamente ter uma viagem daquelas. Talvez já não fosse forte o bastante para aguentar o tranco.

Sim, era um lugar que valeria a pena quantos anos fossem necessários para se chegar. Mas ele estava cansado. Não queria viver uma vida longe dos velhos costumes. Se fosse nú, talvez não duraria muito tempo por lá. Poderia não ter os mesmos sentimentos de outrora e estaria mais uma vez sozinho. Perdido.

O coração bate forte. A adrenalina dilata os vasos sanguíneos. É hora de correr ou lutar.

Nem um, nem outro. Frustra-se.

Os pulmões se enchem de ar, mas os alvéolos não respiram todo o oxigênio mais.

Os olhares se cristalizaram e o brilho que havia se tornou uma sala escura.

Ele quer outra coisa e você precisa deixar aquilo que um dia foi - dizia a si mesmo sem muito efeito.

Quando uma árvore cresce rápido demais, ela não acompanha com beleza aquilo que floresce à sua volta. Mas ele não entendia muito bem isso.

Estava tão alto que tinha medo de cair - mal sabia ele que a queda, na verdade, era um resgate de uma pureza.

Está forte. Uma rocha de diamantes. Deixou tudo para si e teme dividir as sete cores e a forma que o torna único.

Ele está para si e consigo mesmo.

Deixe-o.

As mãos querem tocar e sentir o arrepio da alma. Onde está? Por onde anda?

Me perdi do caminho. Não sei chegar mais àquele lugar. Quase me esqueço como lá era.

Eles andaram por outros cantos. Havia uma boniteza, mas não beleza. Havia gozo, mas não prazer. Havia doação, mas sem entrega.

Havia de tudo, menos amor.

Renan Sposito
Enviado por Renan Sposito em 01/08/2016
Código do texto: T5715574
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