SONETO DE A B R I L

 
Agora que é abril, e o mar se ausenta,
secando-se em si mesmo como um pranto,
vejo que o amor que te dedico aumenta
seguindo a trilha de meu próprio espanto.
 
Em mim, o teu espírito apresenta
todas as sugestões de um doce encanto
que em minha fonte não se dessedenta
por não ser fonte d'água, mas de canto.
 
Agora que é abril, e vão morrer
as formosas canções dos outros meses,
assim te quero, mesmo que te escondas:
 
Amar-te uma só vez todas as vezes
em que sou carne e gesto, e fenecer
como uma voz chamada pelas ondas.
 
 
- Lêdo Ivo, in "Acontecimento do Soneto",1948.
Tânia de Oliveira
Enviado por Tânia de Oliveira em 28/07/2016
Reeditado em 28/07/2016
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