UMA ULTIMA NOITE DE AMOR
O quarto vazio
às quatro da madrugada,
abro os braços e me estico todo
tentando alcançá-la;
ao tocar o travesseiro vazio,
desequilibro-me na túmida solidão
da noite, que se vai escorrendo
liquida e silentemente
- fora há anjos ao jardim,
sobre os finos arames dos varais,
a sussurrarem sobre mortes ícaras
e ressurreições fênix -,
entre as esquálidas paredes do quarto
- antes vivas com a presença dela –
e sob a luz neon apagada;
vai-se-me também esvaindo
a alma naufragada,
sem nenhuma harmonia plácida
e sem nenhuma esperança grávida
para enxugar-me as lágrimas."