QUANDO QUASE NÃO ERAS MAIS
Quando quase não eras mais
a saudade a mim desfigurou,
tomei emprestado o tom azul
marinho na paleta olhos-teus.
O instante luzia, noutro fugias
e a tinta, sem que a contivesse
das palavras escorria Danúbio
Nilo, quase não eras mais, mas
eras a translúcida água parada.
Tomei de um só gole teu mar
e singro a terra seca molhado.
Para os pés, deságua descabida
a boca da chuva escancarada
sobre o óleo desta solidão
solilóquio
silêncio
figura
Molhado no revés do caminho
de procurar-te onde estivestes
a novidade é ter ainda pé e chão
teu retrato na memória descora
e tinge minhas duas duras mãos.
Esparramo-nos nus, teus azuis
se escrevo “não dura a alegria
enquanto pinto” é para conter
da aurora luminescente brilho
no retrato, e de novo para mais
um dia a vida viver emprestado.
Baltazar