QUANDO QUASE NÃO ERAS MAIS

Quando quase não eras mais

a saudade a mim desfigurou,

tomei emprestado o tom azul

marinho na paleta olhos-teus.

O instante luzia, noutro fugias

e a tinta, sem que a contivesse

das palavras escorria Danúbio

Nilo, quase não eras mais, mas

eras a translúcida água parada.

Tomei de um só gole teu mar

e singro a terra seca molhado.

Para os pés, deságua descabida

a boca da chuva escancarada

sobre o óleo desta solidão

solilóquio

silêncio

figura

Molhado no revés do caminho

de procurar-te onde estivestes

a novidade é ter ainda pé e chão

teu retrato na memória descora

e tinge minhas duas duras mãos.

Esparramo-nos nus, teus azuis

se escrevo “não dura a alegria

enquanto pinto” é para conter

da aurora luminescente brilho

no retrato, e de novo para mais

um dia a vida viver emprestado.

Baltazar

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 15/07/2016
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