Foz (Meus Braços, Tua Foz)

Foz

(Meus Braços, Tua Foz)

Caminhamos, de mãos dadas,

pela margem sinuosa do rio,

submersos pela vegetação

densa na escarpa do monte.

Pousas o rosto em meu peito

e ofertas-me os teus lábios

sedentos de meus beijos

ávidos do teu sabor de mel.

Nossos corpos alvos

e desnudos se enlaçam,

se tocam, se excitam...

Nossos braços se acorrentam

negando a libertação do momento.

Nossos olhos se cerram ao encanto

do canto dos pássaros e às cores

da paisagem e ao murmúrio do rio.

Tudo existe, mas nada nos perturba...

E ruímos no leito, de pedra e areia,

húmido da manhã de orvalhadas.

Enciúmo teus lábios, beijando-te

a face, as mãos, os seios, o ventre,

as coxas em convulsão, as costas,

forçando-os a gemer de prazer.

Minhas mãos tacteiam a escultura

de teu corpo em lava eruptiva.

O tempo segue o seu rumo imparável,

mas nós temos todo este momento

de esquecimento; só a doação de ambos

marca os ritmos orgânicos essenciais.

Rolamos no leito duro, insensíveis à dor,

imergimos na água gélida e vogamos

na forte corrente das cascatas rugindo,

seguimos a nupcialidade de outro leito.

No repouso, sobre meu dorso lanças

odorosas flores silvestres em chuva,

e deitas-te leve numa invertida junção;

sou teu leito que te envolve acariciador!

E a natureza nos apela, gentil,

aos tesouros que encerra

e lança-nos na descoberta

de outros leitos de amor.

E numa lagoa mais distante,

meus braços, amor, são a tua foz.

Vem célere, minha ninfa amada!

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Poeta sem Alma
Enviado por Poeta sem Alma em 20/06/2016
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