Despudoradamente

A morte não pode ser ruim

Posto que ocorre com todos

Viventes, semoventes e imóveis

Todos desaparecerão do mapa.

E ninguém sobrará para contar

A história que ninguém vai ouvir

Logo não pode ser tão ruim,

Tão aterrorizante e terrível

O desaparecimento de uns

É garantia de que há para outros

Lugar, espaço, comida, trabalho,

Então porque sofrer o mal antecipado?

Digo-te, melhor continuar em paz,

Mastigar quando for possível,

Com os poucos dentes que te sobraram,

Melhor pensar nos momentos de amor.

Os que passaram, os imaginados,

Os do futuro distante e irrealizável,

Melhor estar de olhos abertos,

Narizes cheirando os ares...

Ah, o cheiro da fêmea move montanhas,

E faz acontecer milagres,

Estar atento e tudo o que resta,

De repente acontece...

Acontece, uma nuca despida

De pudores e pundonores,

Um perfume que pede uns beijos,

Coxas que se descobrem destemidas,

Hálito doce de desejo...

De repente acontece,

De repente...

Ah, foi tão de repente,

Que queria que durasse mais um pouco...