Escreve, Minha Pena

Escreve, Minha Pena

Corre, pena! Rascunha esta página muda,

Num riscar negro, áspero e deselegante,

Ousa-te explanar delírios do coração.

Escreve, minha pena! Não negues ser ajuda

Desta mão vacilante, senil, tão hesitante

Em ostentar manejos rituais de uma paixão.

Assim, como tu, triste cativa nos anéis

Destes meus dedos, serva submissa das demandas

Entre a sã lucidez e a loucura frenética,

Também a doce amada, nos braços - elos ágeis

Se enleou, qual hera viça, por razões quejandas,

Ao seu senhor, titular de ternura famélica.

No sereno enlace, repousou a minha alma,

Da sua húmida boca, mel e sal, sorveu ávida,

Do róseo seio, licor alvo saciou, deleitada,

Exsudou, do seu corpo, orgasmos, e arqueou calma.

Devotei-lhe a liberdade, restou impávida,

- Verdissecar? Jamais! Enquanto fosse desejada...

Escreve, minha pena! Desliza de bom grado,

Adorna este velino com trechos de amor!

Pena, redige tu, em tons de suave tocata,

O voo da mariposa enamorada dum prado,

Ou do ilusório canto do fino beija-flor,

Que, ora beija, ora não, a flor, feliz e grata.

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Poeta sem Alma
Enviado por Poeta sem Alma em 12/06/2016
Reeditado em 12/06/2016
Código do texto: T5664879
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