Escreve, Minha Pena
Escreve, Minha Pena
Corre, pena! Rascunha esta página muda,
Num riscar negro, áspero e deselegante,
Ousa-te explanar delírios do coração.
Escreve, minha pena! Não negues ser ajuda
Desta mão vacilante, senil, tão hesitante
Em ostentar manejos rituais de uma paixão.
Assim, como tu, triste cativa nos anéis
Destes meus dedos, serva submissa das demandas
Entre a sã lucidez e a loucura frenética,
Também a doce amada, nos braços - elos ágeis
Se enleou, qual hera viça, por razões quejandas,
Ao seu senhor, titular de ternura famélica.
No sereno enlace, repousou a minha alma,
Da sua húmida boca, mel e sal, sorveu ávida,
Do róseo seio, licor alvo saciou, deleitada,
Exsudou, do seu corpo, orgasmos, e arqueou calma.
Devotei-lhe a liberdade, restou impávida,
- Verdissecar? Jamais! Enquanto fosse desejada...
Escreve, minha pena! Desliza de bom grado,
Adorna este velino com trechos de amor!
Pena, redige tu, em tons de suave tocata,
O voo da mariposa enamorada dum prado,
Ou do ilusório canto do fino beija-flor,
Que, ora beija, ora não, a flor, feliz e grata.
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