AMOR SEM CORTES
Toco no avesso do mundo para encontrar nos destroços
do que restou do poema além de amores efêmeros.
Ora a palavra amor foi a sutura da humanidade e seu ódio
O amor é a falácia global na cama dos desafetos e enganos
O amor é esse grito de poder, de corpo ideal e desejo finito.
O amor tornou-se dividendo e raiz cúbica em matéria física.
O amor vestiu a roupa da encenação mediática e perdeu sua aura
Ninguém viu que o amor virgem se quebrou como um vidro...
Todos os poetas líricos estavam lá na hora do amor jogado na lama.
Mas eu a poetinha da razão o guardei no sangue congelado
Medi e calculei sua perda e escondi no útero de minha alma
Costurei-o em minhas vértebras a vibrar na nudez de ausências...
Hoje, neste instante metafísico de não saber o que somos,
o amor é a minha certeza nos lençóis líricos amassados...
Ainda que rasgado, gelo triturado, e aos destroços, definhando...
vibro porque congelei a essência do amor em gotas...
Guardei ainda o amor deixado pelo mendigo atrás da ponte
e recuperado na lama seca de papel atrás do morro e seu abandono.
Tenho o amor do silêncio que roubei dos poetas embriagados...
Eis que na audácia furtei o segredo da lacuna onde cabia o verbo amar
pois sei que o amor da ausência é a melhor das completudes...
Ela, essa ausência corrosiva, é a poesia do vazio transbordado
É no espaço dela que o amor bate a orla, explode e transborda.