A viagem
Qualquer outro vício é perceptível, como cigarro, bebidas alcoólicas, roer as unhas, mover descontroladamente as mãos ou os pés, mas este, este não, ele era silencioso, quase invisível mesmo num ônibus lotado, e mesmo que se percebido, poderia ser facilmente descartado, aliás , quem não olha placas de trânsito? Sim, eu sou viciado em placas, principalmente aquelas que alertam sobre os Km restantes de um certo destino, essas me paralisam, meio louco, eu tenho consciência, mas acontece que nem sempre foi assim, tudo começou numa certa viagem; Daquelas bem longas, em que se tenta olhar pra janela admirando a paisagem, mas os olhos cansam, ou ao subir a serra, você prefere não ter noção da altura em que está, então se concentra no passageiro ao lado, mas começa a ficar estranho toda aquela troca de olhares, e o fato dele ter colocado o fone, talvez indique que ele não quer papo, aí tu pensa, boa ideia, ouvir música, mas o celular precisa ser poupado de descarregar, afinal você precisará de bateria, uma outra opção é dormir, porém sono é a última coisa que se tem graças a ansiedade, então acontece o inesperado, você estende o pulso para ver a hora, automaticamente olha pra frente, e vê aquela placa enorme presa à uma barra de ferro lá no alto, (...) á 30 km ( Seja bem vindo!) , e mesmo sem noção de tempo, a cada minuto está mais próximo daquele destino, como pétalas de rosa espalhadas na porta da sala, pelos degraus da escada, correndo em direção ao quarto, e eu me lembrava sempre disto ao olha-las, e o coração disparava atônito pela chegada; à essa altura você já deve ter percebido que as placas não interessavam tanto, que beleza existe em uma placa? Nem colocam flores para enfeita-las, e deviam, aliás sempre haverá alguém num ônibus, num carro, ou numa moto quem sabe, olhando aquelas placas, e a cada hora, minutos ou segundos, contando a distância que falta, para ver, rever, ter, em seus braços, seu grande amor...