A AVE QUE POUSOU EM MEU DESERTO
… vivia eu
só em meu deserto,
nem preto,
nem lúgrubre, nem com alguma
cor qualquer,
era como invisível
ao mundo;
quando por ali
passou uma moça com seu olhar
esverdeado e seus cabelos
lisos e pretos:
podia ser minha namorada,
minha esposa,
meu amor eterno,
minha salvação, enfim;
cansada,
ela vinha vez em quando
e pousava um pouco,
e, assim,
criei dependência em vê-la.
Quando ousei
me aproximar e tocá-la,
e eu sedento precisava mesmo disso,
assustou-se
e revoou
e nunca mais retornou, deixando-me
ainda mais triste, seco
e solitário.