Desejos em Taça
Desejos em Taça
Deite-se em taça,
de cristal de pé,
vinho de boa cepa,
vermelho de sangue.
Esquente-se lento,
num rodar seguro,
mire-se o espelhado
e olfacte-se a preceito.
Na borda comunguem
duas bocas ávidas de si
e prove-se misturando desejo.
De seguida, beijem-se,
com ardor de paixão,
consagrando o amor,
“quanto baste” a novo sorvo.
Apimente-se com toques de mãos
Irrequietas a sensibilidade cálida
de corpos gotejando suor.
Sorvam-se outras gotas,
com lábios entreabertos,
sôfregos e embriagados,
que se têm apenas unidos.
Esqueça-se a taça de cristal,
de néctar meio consumido,
contaminado de saliva a dois,
no meio da mesa de apoio.
Na manhã cansada, ao acordar,
olhe-se a taça usada na noite,
e suspirem-se ais de nus felizes
em memória do amor consumado.
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