NADA  E ...


Nada

Então pensei, por fim, como se faz,
para escrever um verso e dizer nada,
usando da palavra desastrada,
altiva, inconsequente, contumaz?

Tomá-la como a uma mulher, sem paz,
apenas para o gozo, sem parada,
deixando-a logo após abandonada;
apenas possuí-la, nada mais?

Histórias construídas ao acaso,
sem nunca aprofundar, sentir paixão.
Escrever as palavras com descaso,

mostrar que o meu orgulho é questão
de usar e de abusar, sempre a meu azo,
da força, do sentido e da razão?


Tudo

E se escrevo um poema e digo tudo
o que há dentro de mim e me consome
e a palavra escolhida sempre mudo,
como um homem volúvel, sem renome.

Se procuro mostrar, como um estudo,
a nuance escondida, minha fome
de aclarar e de usar, como um escudo,
a verdade contida num prenome ...

Quais palavras, então, servem pra isso?
Sem vaidade, procuro as mais singelas,
isentas de artifício e de feitiço. 

Aquelas que em meus lábios, sim, aquelas
que dizem que um amor é compromisso
e, mesmo sendo simples, são mais belas.


Nilza Azzi



nilzaazzi.blogspot.com.br