Se não fores capaz....
Se não fores capaz...
De transitar entre o inferno e o paraíso,
De sonhar com a paz durante a guerra,
De sentir o sabor doce no fel,
De dar a pele à garoa da tempestade...
Se não fores capaz...
De atender aos caprichos da grande paixão,
De aceitar a ternura com açoite,
Durante o dia ou à noite,
De enxergar a luz na escuridão...
Se não fores capaz...
De caminhar no terremoto,
De sentir a brisa do furacão,
De ser o mesmo que está na foto,
De ouvir o silêncio do trovão...
Se não fores capaz...
De sentir e perder o chão,
De sempre cair e levantar,
De respirar o ar que não existe,
De, se preciso, viajar na contramão...
Senão fores capaz
De extrair a melodia da confusão,
De viver a vida sem negar a morte,
De trocar a calmaria pela turbulência,
De viver, sem pudor, a tua infância...
Se não fores capaz...
De fazer escárnio da tristeza,
De chorar de alegria,
De sentir o frio na espinha no auge do calor,
De sentir alternadamente ódio e amor...
Se não fores capaz...
De ver saúde na doença,
De sentir a força na fraqueza,
De te abastar na miséria,
De manter a dignidade e grandeza...
Se não fores capaz...
De perseverar nos revezes,
De bater e apanhar sem sofrer,
De regar uma flor no deserto,
De ler a mensagem de uma lágrima...
Então... Não serás capaz de amar...
Porque amar não é exercício que acalma,
Tampouco é eterno ou irreversível.
Amar é dar a cara, o corpo e a alma.
É sonhar e viver o impossível.