Abismo
Eu sofro de afeto preguiçoso
Eu me interesso por tudo que me cansa
Eu me apaixono por tudo que me machuca
Eu amo tudo que me destrói
Eu me puno em tudo que eu sinto
Em todo meu querer há uma chaga
Em todo meu afeto há magoa
E em que cada lagrima, ódio
Todo ato de amor é uma ofensa
Todo ódio é um carinho
Tudo que sinto é pelo avesso
Só se ama com desprezo
Ainda assim, sim não me negaria de qualquer forma;
Me sou no sentido de que não faço sentido
Nem toda lógica formal, ou todo tipo de teorema.
Nenhum estratagema, nada disso me castra
Um dia desses vou explodir sem pedir socorro
Sumo em minhas vísceras e nas minhas entranhas
Viro energia e simplesmente levo tudo que já senti
Eu jamais abdicaria do orgulho de não caber no mundo
Por isso mesmo sou humano e por isso belo.