PEDIDO
Se me pedes para esquecer-te, digo que não posso!
Há uma força que suplanta as torrentes de um vulcão
Há uma onda que avassala muito mais que a ressaca do bravio mar
Há um embate que esmigalha o resistir do coração
Há um impossível impenitente, que é o de ti não vir pensar!
Se me pedes meu desamor, não te posso atender!
Há um renascer que somente as cinzas da paixão poderiam produzir
Há um odioso te esquecer que persiste desaguando nesse amar
Há um semblante subjugado nessas arenas, por querer não te sentir
Há este que semeia em demasia teu repelir, mas só colhe o teu buscar!
Se me pedes a outra possuir, digo que desistas!
Há braços que afagam, mas em vão, posto que de peito vazio
Há lábios que se acham, mas iludidos, posto que as almas se repelem
Há por umas e outras esse mero querer, mas por ti há um cio
Há quem fuja de ti e te ache nas demais – onde em ti elas se perdem!
Se me pedes tua morte em mim, digo que és eterna!
Há um sol por testemunha, um cúmplice luar do meu sincero tentar
Há uma forca incoerente, que sacrifica e pune meu persistente querer
Há um morrer condescendente que somente vida põe-se a gerar
Há um renascer em mim latente, quando de amor por ti me vejo a morrer!
E se me pedes que algo te peça: peço-te a mim!
Perdido em ti, que me devolvas o ser
Envolto na paixão, que me restituas o coração
Morto em solidão, que me soergas desse bucólico cair
E que por fim me devolvas a mim, dando-me definitivamente a ti!