Praia de Faro
Pressinto a vaga quando se aproxima. Sei
quando e como vai crescer, o minuto
preciso do seu clímax não constitui
mistério para mim
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Sei quando passa na rua o varredor. Esse
que figura pintado com uma pestana na caixa
japonesa de papier mâché e me assalta
em taquicárdias insuportáveis nos sonos REM
.
Sei captar os pardais
para que venham debicar migalhas
nas esteiras do meu almanxar,
hoje em dia desguarnecido
.
Sei esperar a Lua Nova para depilar
o buço ou transplantar as violetas
que me transbordam dos vasos do parapeito
da janela da sala
.
Só não sei o que é este ruído
lá fora
O que é, donde vem, por que me percorre as cordas
vocais com tal fúria
.
Só não sei onde poisar os pés
.
Só não sei donde me vem
a tua voz
(que no entanto
é a minha...)
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Ilha de Faro, 9 de Maio de 1995
Inédito
© Myriam Jubilot de Carvalho
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