A DOR DO ABANDONO
Parece que foi ontem.
É impossível esquecer.
A alegria do resultado do exame.
A semente de um ser!
Os preparativos, a alegria, a expectativa.
O medo, os sonhos, a espera... Agonia.
Será que tudo dará certo? Serei uma boa mãe?
Meu corpo será o mesmo? A criança virá com saúde?
Nove meses nesse drama... Sonhamos com esperança!
O romper da bolsa.
As dores do parto
O medo toma conta...
Sou marinheira em primeira viagem!
Mas ouço o seu grito, criança
Já amada dentro do ventre
É a filha que tanto esperei
E por quem agora viverei!
E vem a insegurança na primeira febre
No primeiro tombo, no nascer do dente
E o tempo (é cruel ou esperto?) passa tão de repente!
Que quase nem noto você moça, à minha frente!
E vem a faculdade, o casamento, os filhos
E eu, que nem notei o tempo passar
Que ainda a chamo e a vejo como menina
Sou tomada pela síndrome do ninho vazio!
E o tempo mostra novamente sua esperteza
Trazendo-me os netos a rodear nossa mesa.
Eu renovada, sem as alterações hormonais
Sou avó, sem aquelas preocupações iniciais.
E novamente faço planos, sonho alto
Sonho com tudo que posso e quero fazer.
Vou cobrir os netos de amor e carinho
Sem deixar o cansaço me vencer.
Mas... De repente, sei nem ao menos saber o porquê.
Tudo me é tirado, roubado, surrupiado!
Você sai da minha vida ou tira a minha vida de você!
Simplesmente passo a ser nada, e nada posso fazer!
A dor do abandono me consome
Minha alma num instante envelhece.
Como se pode mudar num instante?
Sinto-me um velho objeto esquecido na estante.
Eu sou forte, sei sobreviver.
Aos trancos obrigo-me a seguir em frente.
Tenho auxilio medico constante
Mesmo assim, uma sobrevivente!
E rezo todas as noites, filha que tanto amo
Que o destino não lhe reserve a mesma lição.
Sei da dor do abandono
E por te amar não lhe desejo não!
Santo André, 12.04.2016 – 01h24m